sexta-feira, 19 de abril de 2013

A história do espartilho



Desde o início do século 14, a preocupação era dar forma à porção central do corpo. Neste período, homens e mulheres usavam faixas apertadas em volta do corpo. Com o tempo, as mulheres passaram a usar saias longas e fartas. Somente a cintura era apertada, enquanto o resto podia fluir e criar volume.
Até a Idade Média, os seios eram sustentados por corseletes, uma espécie de colete justo, que eram usados por cima de camisas e amarrados nas costas. Com o tempo, essa peça tornou-se mais rígida e pesada, até o surgimento do espartilho propriamente dito.

Nenhuma outra época exaltou tanto a beleza feminina como o Renascimento, um período de sensualidade e erotismo. Durante o século 15, a atenção estava toda voltada para os seios.
Após o Renascimento, o vestuário tornou-se mais rígido, assim como a época. Apareceu o corpete pespontado, que dava ao busto o aspecto de um cone. Esse corpete era armado com uma haste (uma lâmina sólida feita de madeira, marfim, madrepérola, prata ou osso de peru, para os menos abastados) encaixada no próprio tecido.

No século 18, o uso de barbatanas de baleia deixaram as hastes mais flexíveis e os espartilhos menos rígidos. Já no final do século, a haste central foi substituída por várias barbatanas. O novo espartilho comprimia os seios por baixo e deixava-os mais evidentes sob os decotes.
A Revolução Francesa sacudiu a sociedade européia. As roupas voltaram a ser mais simples e práticas, levando a moda a outras camadas sociais. Pela primeira vez em séculos, as mulheres deixaram de usar suas crinolinas (uma armação feita de arcos de aço para moldar a forma das saias) e seus espartilhos. A moda era das transparências, e os seios eram sustentados por um corpinho de tecido.

A idéia de que o corpo deveria ficar firme era muito forte e, com isso, os espartilhos voltaram a ser usados. Vários modelos surgiram, acompanhando a moda do momento. Um desses modelos foi o corpete "à la Ninon", que trouxe de volta as barbatanas, mas era cortado bem curto, na altura da cintura.
No século 19, de 1804 a 1820, o espartilho parece mais um instrumento de tortura. É a moda dos seios separados, possível graças a um sistema de barbatanas inventado por um espartilheiro da época. A partir de 1815 os decotes ficaram mais profundos e a cintura, que era embaixo dos seios, voltou ao lugar normal, o que significava silhuetas finas e exigia espartilhos ainda mais terríveis.

Em 1823, foi apresentado pela primeira vez um modelo mecânico, com polias, que podia ser atado e desatado sem a ajuda de outra pessoa.
Em 1828, só existiam duas marcas registradas de espartilhos, mas em 1848 elas já somavam 64.
Em 1832, o suíço Jean Werly abriu uma fábrica de espartilhos sem costuras, que já saíam do tear com barbatanas, hastes e armações prontos. Com o início da industrialização, foi possível fabricar modelos mais baratos.
Em 1840, foram usados cordões elásticos, o que facilitou que as mulheres se vestissem e se despissem sozinhas. A partir dessa época, as mulheres superaram os homens na fabricação dos espartilhos, que começaram a ser moldados com antecedência e em série, iniciando assim a confecção.
Até 1870, a mulher permaneceu comprimida, mas, a partir daí, a crinolina foi substituída pela "tournure" (uma espécie de almofada), que deixava a mulher com o perfil de um ganso, em forma de S, com os seios projetados para a frente, e os quadris, para trás.
Nessa época, existiam muitos modelos de espartilho à disposição, para todas as ocasiões. Além disso, a invenção das barbatanas em aço inoxidável acabou com a luta das mulheres contra a ferrugem. No final do século 19, os espartilhos eram tão apertados que as mulheres não conseguiam mais se abaixar, além de possuírem um sistema complicado de ligas e prendedores de meias.

Na Exposição do Trabalho de 1885, foram apresentados os seios artificiais, adaptáveis ao corpete, que podiam ser inflados.
Em 1900, outro modelo terrível, cheio de enfeites, possuía um mecanismo metálico que incomodava as virilhas, obrigando as mulheres a se curvar. Os seios, novamente, eram projetados para frente, o que caracterizava ainda mais a forma de S.
Em 1909, os trajes usados pelo balé russo de Diaghilev, grande sucesso em Paris, inspiraram estilistas como Paul Poiret, que revolucionou a moda, suprimindo a forma de S e trazendo uma linha mais leve e natural.
Nessa época, as mulheres começaram a exigir novos modelos, que correspondessem melhor aos seus anseios. Seu modo de vida havia mudado e uma classe média de mulheres que trabalhavam começou a surgir, além da popularização da prática de esportes.

A mulher continuou a usar o espartilho, porém ele já estava menor e mais flexível, permitindo movimentos mais livres e postura reta.
Curiosamente, esse estilo mais natural fez surgir, em 1908, um espartilho longo que descia até os joelhos, impedindo a mulher de sentar-se.

A morte do espartilho está intimamente ligada à Primeira Guerra Mundial. Com os homens ocupados, lutando na frente de batalha, as mulheres foram convocadas a assumir os trabalhos nos campos, nas cidades e nas fábricas. O trabalho operário exigia espartilhos menores, mais confortáveis e simples. Além disso, a burguesia não contava mais com grande criadagem, o que fez com que as damas optassem por modelos de corpetes mais simples e fáceis de vestir.

Durante os anos de guerra, os espartilhos foram, gradativamente, sendo substituídos por cintas. Os seios, porém, precisavam de algum suporte, já que o espartilho também servia para erguê-los. Foi nesse contexto que, um acessório que apareceu nos anúncios publicitários de lingerie a partir do fim do século 19, mas que ainda não havia conquistado todas as mulheres, passou a ser fundamental - o sutiã. 
A moda, entretanto, voltou a adotar a silhueta marcada, em 1940, trazendo de volta os espartilhos, porém mais leves. Novamente a guerra, dessa vez a Segunda Guerra Mundial, tratou de tirá-los de cena. Somente em 1947, com o "New Look", de Christian Dior, que valorizava as formas do busto e cintura fina, os espartilhos voltaram a ser usados. Nessa época, o estilista francês Marcel Rochas criou um modelador cintura-de-vespa que foi um grande sucesso.

Na década de 80, os corpetes com barbatanas, que realçam o corpo, voltaram a ser apreciados. Já no início dos anos 90, com o fetichismo em moda, alguns grandes estilistas como Gianni Versace e Jean-Paul Gaultier lançaram espartilhos futuristas e que deviam ser usados, não como roupa de baixo, mas por fora, para serem mostrados.




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